quinta-feira, 9 de julho de 2009

MUMBAI REVISITADA






Aqui aterrámos e daqui partimos. Entre duas Mumbai que no fundo são apenas uma, passou mais de mês e meio. A cidade está mais atarefada mas a principal mudança deu-se em nós. Ao cansaço acumulado junta-se a sede de fechar um capítulo para iniciar outro. Decidimos terminar em estilo VIP (pelo menos no padrão dos mochileiros), num quarto desafogado e asseado no YWCA, a versão feminina do famoso YMCA. Na televisão passam jogos de futebol da liga inglesa entre tardes inteiras dedicadas ao críquete e muita música. À noite, a tarifa paga inclui um saboroso jantar bufete.
Durante as saídas diárias, o calor convida a procurar sombras. Encontradas no Museu do Príncipe de Gales em que despontam as belas pinturas miniatura dos séculos 16 a 18. Lá fora, os extensos jardins rodeados de imponentes edifícios de estilo vitoriano são utilizados pela população para praticar críquete. O legado britânico é de pedra e de costumes. Mas a vivência é indiana.
Parados na berma do passeio, à espera do sinal verde dos peões, ladeia-nos um homem com roupa suja e esfarrapada, corpo débil e rosto cansado. Do outro lado, um homem de fato com bom corte, cabelo cuidado e face barbeada. Um olha para um ponto inexistente no horizonte com duas mãos cheias de nada. Outro olha para o telemóvel de última geração alojado numa mão enquanto carrega uma pasta executiva na outra. O semáforo torna-se vermelho. Um Mercedes pára ao lado de uma bicicleta. Sinal de uma Mumbai excessiva nos extremos que quase se tocam. Quase. Porque na verdade, há uma distância invisível e ao mesmo tempo espessa e concreta que os separa. E um dos grandes desafios da Índia é perceber esta sã convivência entre miseráveis e ricos, ombros quase encostados à espera de atravessar a mesma rua.

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