segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PRSENTE NATALÍCIO
EM FORMA DE LUANG PRABANG






As guest-houses de Luang Prabang estão todas lotadas e percorremos quilómetros de mochila às costas e guia na mão à procura de um quarto vago. As minhas costas acusam o esforço. Sou forçado a parar e enquanto guardo a carga é a AV que encontra um sítio para ficarmos. As ruas entretanto percorridas deixam uma sensação agradável desta cidade Património Mundial da UNESCO. A construção nas áreas limítrofes é composta de bairros de vivendas. No centro histórico reinam os edifícios baixos, devidamente preservados. Percorremos a rua principal e sentimos um perfume parisiense. O legado francês está presente na arquitectura de casas com varandim, na língua que encima os menus dos restaurantes, na comida de rua dominados por baguetes e triângulos de queijo La Vache qui Rit. Famílias francesas, bem vestidas, recuperam a Indochina do passado colonial através do turismo. A atmosfera tem tanto de sofisticado como de rural. Apetece passear por artérias de areia e terra, alumiados por lanternas de papel, rebuscando memórias de filmes e livros. Encher os pulmões de ar fresco e perceber que é nesta terra do Laos que iremos passar o nosso primeiro Natal fora de Portugal.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

ESCALA(DA) PAK BENG


Entardece quando atracamos em Pak Beng. Só depois de nos passarem as mochilas para as mãos é que percebemos a escalada que nos espera. A AV tem um ataque de riso perante a visão do declive de terra que teremos de trepar. O peso da mochila inclina o corpo para trás e a lei da gravidade parece transformar a ravina num obstáculo intransponível. Esculpimos no solo a frase feita “não há impossíveis” à custa de força de músculos, determinação, empurrões e suor. No topo espera-nos uma guest-house toda em madeira com anfitriã que se desdobra em simpatia. Saímos em expedição pela pequena aldeia do Laos. Sente-se o peso do turismo na quantidade de restaurantes, hotéis e lojas. Jantamos com satisfação num ambiente suavemente iluminado.
A lembrança de que o Mekong é zona de malária não impede um sono reconfortante debaixo de uma rede mosquiteira e banhados de repelente. Acordamos ao som de galos. O pequeno-almoço é servido numa mesa à porta da casa. Sorridente, a dona prepara-nos sandes para o almoço enquanto arranja leite para o café da AV. Vem em forma de colherada de uma substância sólida para dissolver. Sabe a caramelo e eu fico-me pelo café aguado. De volta ao cais, entramos num barco com almofadas nos assentos. O conforto melhora e retiramos os livros em segunda mão comprados em Chiang Mai. São duas autobiografias: a de Ghandi para a AV, a de Marlon Brando para mim. Embalados pela paisagem enquadrada nos caixilhos de madeira das janelas, deixamos as horas passarem por entre os dedos. Dormimos, lemos, comemos, meditamos. Pouco falamos. Um pôr-do-sol esplendoroso anuncia o fim da viagem e soletra as palavras que queríamos dizer.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

MARGENS VÍVIDAS






Os turistas mochileiros representam uma tribo que, dentro de uma grande diversidade de países de origem, apresentam algumas características comuns. Vestem de forma casual ou étnica, às vezes com roupa esfarrapada pelo tempo e pelas condições das viagens, o que ajuda a não se destacarem demasiado. Procuram conhecer e entender as culturas locais e têm expectativas de conforto – em variadas áreas, desde a comida ao local de dormida – relativamente adequadas ao país em que se encontram. As paragens ao longo do percurso, além de servirem para descontracção do corpo, servem para ratificar os paradigmas mochileiros. Crianças e adultos lao aproximam-se dos barcos que descarregam viajantes nas margens lamacentas. Surgem interacções espontâneas, por entre estendais de peixe a secar e hortas cultivadas na terra dura. A infertilidade do solo e do contacto humano é uma miragem. Ao longo do Mekong há vida à espera dos passantes.

domingo, 2 de agosto de 2009

HORIZONTE MEKONG





sábado, 1 de agosto de 2009

RIO ACHATADO





A travessia do rio Mekong faz-se num barco longo e achatado. Chamam-lhe “slow boat” e com razão. Rumamos em velocidade lenta. A paisagem parece estática. As janelas sem vidro deixam entrar o vento frio. Estamos artilhados com polares e acomodamos a cabeça nos nossos capuzes. O banco é de madeira e o casco inclinado impede que estiquemos as pernas ou nos sentemos direitos com os pés no chão. Sonhamos com o conforto do colchão na margem de Huai Xai. Volta e meia, um “speed boat” passa por nós como um torpedo, com uma mão cheia de turistas. Demorarão oito horas para efectuar o trajecto, em vez dos nossos dois dias. O barulho do motor, mesmo à distância, ensurdece. Voltamos a olhar para a margem e percebemos que o cenário mudou. Somos esmagados por arranha-céus de vegetação selvagem verde escura e rochas cinzentas. Rodeia-nos um azul de céu e mar que parecem não ter fim. Ficamos contentes com a decisão tomada, apesar de viajarmos num barco lata de sardinha que nos amarra as pernas até deixarmos de dar conta delas.