quinta-feira, 28 de maio de 2009

O RIO QUE NÃO DESCANSA




Jean Renoir fez nas margens do Ganges um dos mais belos filmes da história do cinema. O Rio Sagrado é um conto de emancipação, narrado através das fantasiosas paixões adolescentes. Um contexto de diferença cultural serve de cenário. Em Varanasi, o conceito ocidental do valor da perda humana leva uma bofetada letal. Os indianos anseiam desaguar nesta paragem. Há “torres de morte” onde peregrinos aguardam pela cessação da vida. Os cortejos fúnebres acompanham-se de cânticos alegres. As mortalhas de tecido que envolvem os corpos ostentam cores garridas. Padecemos da iluminação imediata que nos permita entender a famosa Índia espiritual. Não a encontramos. O dia a dia permanece um combate. Nos ghats (escadarias) somos assoberbados por crianças que vendem flores ou pedem moedas, adultos que anunciam viagens de barco ou massagens. O rio sagrado do filme surge como “a grande ilusão” de Renoir. Falta placidez para o entender devidamente.

Sem comentários: