quarta-feira, 27 de maio de 2009

MÍSTICA ENCAPUÇADA




As incursões no ventre da cidade dificultam a apreensão do misticismo de Varanasi. A visão de múltiplos sadhus (ascetas) é sinal de que estamos num local entranhado de religião. Mas as ruas são o mesmo misto de poeira e lixo nas bermas e de trânsito caótico embora mais pedalado. No céu, o azul está esquartejado por grossas linhas negras. Os cabos eléctricos formam ninhos no cimo dos postes de madeira e propagam-se como um vírus às janelas em redor. Quando chove acontecem curto-circuitos que espalham faíscas como se estivéssemos numa revisitação tardia do Diwali. As paredes esburacadas exibem anúncios em forma de pintura ou cartazes de cinema. As bancas de rua são minimercados onde tudo se vende à unidade. Champô? Compra-se duas ou três saquetas daquelas que no Ocidente vêm gratuitas nas revistas femininas. É a economia de escala. Neste caso pobre e sem ligação ao divino.

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