quinta-feira, 14 de maio de 2009

AHMEDABAD BÍBLICA


O corpo cansado dificulta a preparação do espírito para o desembarque nocturno em Ahmedabad. Não ganho coragem de sacar a câmara para ilustrar o formigueiro em que penetramos. A Andreia descreve a cena como saída dos tempos bíblicos; eu acrescento o imaginário de Hieronymus Bosch. Paira a miséria nos andrajos dos pedintes. O cansaço vinca o rosto dos velhos. Somos inundados por olhares demasiado intensos e múltiplas solicitações. Estamos receosos, amedrontados, nasce a vontade de desaparecer dali. As mochilas às costas ganham o peso de uma cruz até as pousarmos na plataforma do comboio para Udaipur. Passa uma hora até nos deitarmos aliviados no beliche da nossa carruagem. Arrancamos. Pela janela sem vidros entra frio e poeira. Submergimos num casulo de casacos fato treino e lençóis “saco cama”. É assim que se caminha para um destino de luas-de-mel.

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