domingo, 17 de maio de 2009

ATESTAR O ESTÔMAGO




Aproveitamos Udaipur para comer bem, num conjunto de refeições acompanhadas de horizontes visuais que repousam a mente. Sentimo-nos turistas de corpo e alma, longe dos bairros de lata (com plástico no lugar da lata), dos esgotos a céu aberto e do lixo amontoado que vislumbrámos a partir do comboio à saída de Mumbai. Nestes refúgios ocidentalizados não encontramos a sujidade e o desconforto das ruas empoeiradas da cidade. Assentamos o corpo em almofadas fofas. Numa noite rumamos num barco privativo ao luxuoso Lake Palace, edificado no meio do lago. Espera-nos um jantar buffet por um preço obsceno para a Índia (60 euros/2 pessoas). Atestamos os nossos estômagos privilegiados, resistindo à tentação de nos sentirmos mal com o manjar. A congestão ocorre durante o pitoresco espectáculo de danças tradicionais. Ao nosso redor, proeminentes panças com copos de whiskie na mão espojam-se em cadeirões de verga. Emparedados entre dois mundos opostos – o da extrema riqueza e da extrema pobreza - sem pertencer a nenhum deles, regressamos reconfortados ao nosso quarto onde pendurámos um cordão de rede de pescador a fazer de estendal da roupa.

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