sexta-feira, 26 de junho de 2009

MADURAI ENDEUSADA






Tamil Nadu, nome de estado, acolhe-nos manhã cedo. Largamos as mochilas num depósito da estação ferroviária. A luz madrugadora mostra o pó disperso pelo ar daquele armazém e tolda um cenário de biblioteca secular onde se ocultam livros secretos. Deitamos a pesada carga em prateleiras velhas e usadas, com teias de aranha nos cantos. Corremos para a rua, na dúvida de as conseguiremos reencontrar. Madurai está meia adormecida. As lojas fechadas concentram a atenção na sujidade do chão. As gentes têm pele escura, a roçar o negro. Compramos bananas para o pequeno-almoço. À entrada do complexo de templos Meenakshi, dou o resto do cacho a um pedinte. A esmola não agrada e entramos no intrincado labirinto de deuses para pedir perdão. São milhares, em forma de estatueta, alcandorados em torres altas que fazem a ponte entre o terreno e o divino. Nós somos da terra. Movimentamo-nos descalços por caminhos maculados apesar da presença de um caixote do lixo coelho e pagamos 50 rúpias pelo privilégio de fotografar uma maravilha indiana. Quando resgatamos as mochilas, a camada de pó acumulado revela que devem ter passado 100 anos sem darmos conta. O tempo é caprichoso. Primeiro a urgência de horas que se desfazem em segundos. Agora, minutos que duram dias. Estamos de novo em andamento, apertados num ínfimo banco de autocarro.

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