segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PERFUME DE FÉ

À beira do Rio do Perfume, enxames de remadoras e fotógrafas, novas e velhas, esperam pelos turistas. Os barcos achatados percorrem um rio estreito, de águas calmas, com margens debruadas por pequenas elevações rochosas. O dia continua cinzento e frio. Aquecemos em terra firme com um treking de ritmo desenfreado, imposto pelo nosso guia. Descanso apenas e só em bancas de bebidas previamente combinadas. Percorremos quatro quilómetros até ao templo instalado numa gruta no cimo da montanha Huong Tich. Os altares evidenciam a mistura de influências que compõe a "tripla religião" do Vietname, derivada do budismo mahayana, do taoísmo e do confucionismo.
Regressamos em ritmo vertiginoso para almoçar numa mesa corrida. O grupo de turistas interage pouco. Aqui e ali um sorriso acabrunhado ou um pedido para passar o molho de soja. No início da digestão, deambula-se pelo complexo labiríntico dos templos que compõem o Perfume Pagoda. Um grito humano ecoa pelo ar. Persigo o som até encontrar um monge vetusto, de barba longa e branca, a encaminhar-se dolorosamente para o interior de uma habitação. O guia há-de dizer-me que o homem avistado é dos religiosos mais considerados do Vietname. Vive no Perfume Pagoda. Talvez ele me tenha perdoado pela ausência de gorjeta à remadora no final do percurso. Ela não. Vociferou numa língua desconhecida aos quatro turistas que saíram cabisbaixos do barco, sem moedas no bolso para aplacar aquela ira.

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