terça-feira, 20 de outubro de 2009

GRUTAS DINÁSTICAS






A comida é um dos veículos preferenciais para mitigar agruras da viagem. O livro-guia recomenda o restaurante Little Hanoi. Na mesma rua encontramos dois, com o mesmo nome e placa. Acertamos no “verdadeiro” (aquele que se tornou famoso e “gerou” a cópia), que nos serve lombinhos de atum agri-doce e umas gambas com caju que deliciam o paladar sem a bateria de especiarias de outras gastronomias. Saboreamos o resto da cerveja no aconchego do restaurante, antes de sairmos para as ruas apertadas do velho bairro. Os espaços térreos dos edifícios estão ocupados por lojas, hotéis, cafés agência de viagens, bares e restaurantes, postos de Internet. Raras portas estão fechadas. As pessoas vivem a rua, seja sentadas em banquinhos de plástico dispostos no passeio ou encostados à acelera parada quase no meio da estrada. Regressamos à “nossa” agência Sinh fajuta. Mal por mal, esta já conhecemos. Mas exigimos um guia diferente para a excursão do dia seguinte.

O rapaz que nos guia é, de facto, outro. Mas o inglês macarrónico é o mesmo. Perdemos assim parte dos significados de Hoa Lua, antiga capital real do Vietname edificada durante as dinastias Dinh e Pre-Le (969-1009). Pouco resta do esplendor de outrora à excepção de um pagoda. Colamos ouvidos a outro grupo excursionista para captar explicações. Depois rumamos até às Tam Coc (Três Grutas) do rio Ngo Dong. Na margem esperam-nos mais mulheres-remadoras. Mas neste percurso, apesar das águas calmas, os barcos achatados são movimentados pela “capitã de bordo” e um ajudante que ajuda a navegação através de um pequeno remo.

O céu nebuloso tira brilho à bonita paisagem e a passagem por debaixo das famosas grutas acaba por ser o momento significante do passeio. A luz do sol desaparece gradualmente ao mesmo tempo que o tecto se aproxima do nosso barco ao ponto de nos “obrigar” a baixar a cabeça. Ressurgidos da escuridão, volta a visão dos pescadores no rio, dos camponeses nas margens e dos monólitos de pedra que formam a silhueta do horizonte. Dentro do nosso barco o cenário é outro. A ajudante coloca o remo de lado e retira bordados de um saco de plástico. Impinge-os aos passageiros que já antes tinham sido abordados por um barco-bar para comprarem snacks e bebidas em lata. Presos no meio do rio, não há como fugir ao assédio. Conclusão: o manual de vendas agressivas, tem no Vietname sempre um capítulo inesperado.


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