terça-feira, 4 de agosto de 2009

ESCALA(DA) PAK BENG


Entardece quando atracamos em Pak Beng. Só depois de nos passarem as mochilas para as mãos é que percebemos a escalada que nos espera. A AV tem um ataque de riso perante a visão do declive de terra que teremos de trepar. O peso da mochila inclina o corpo para trás e a lei da gravidade parece transformar a ravina num obstáculo intransponível. Esculpimos no solo a frase feita “não há impossíveis” à custa de força de músculos, determinação, empurrões e suor. No topo espera-nos uma guest-house toda em madeira com anfitriã que se desdobra em simpatia. Saímos em expedição pela pequena aldeia do Laos. Sente-se o peso do turismo na quantidade de restaurantes, hotéis e lojas. Jantamos com satisfação num ambiente suavemente iluminado.
A lembrança de que o Mekong é zona de malária não impede um sono reconfortante debaixo de uma rede mosquiteira e banhados de repelente. Acordamos ao som de galos. O pequeno-almoço é servido numa mesa à porta da casa. Sorridente, a dona prepara-nos sandes para o almoço enquanto arranja leite para o café da AV. Vem em forma de colherada de uma substância sólida para dissolver. Sabe a caramelo e eu fico-me pelo café aguado. De volta ao cais, entramos num barco com almofadas nos assentos. O conforto melhora e retiramos os livros em segunda mão comprados em Chiang Mai. São duas autobiografias: a de Ghandi para a AV, a de Marlon Brando para mim. Embalados pela paisagem enquadrada nos caixilhos de madeira das janelas, deixamos as horas passarem por entre os dedos. Dormimos, lemos, comemos, meditamos. Pouco falamos. Um pôr-do-sol esplendoroso anuncia o fim da viagem e soletra as palavras que queríamos dizer.

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